28 novembro, 2006

18 - DEMOCRACIA – IMAGEM



Democracia, como todos sabem, é o sistema político em que os governantes são escolhidos através do voto popular.
Com relação à imagem a definição já não é tão precisa.
Consultando o dicionário encontrei:
Do latim imagine – s.f
Representação, reprodução ou imitação da forma de uma pessoa ou objeto.
Conjunto de características e atributos de uma pessoa ou instituição tal como é vista pelo público em geral.
As duas definições se completam, de certa forma, sendo uma a extensão da outra.
Nesta extensão é que as coisas começam a se complicar.
Suponha que você, revolvendo seus guardados, encontre uma fotografia da casa em que viveu quando criança.
Como é a simples representação gráfica de algo real e concreto seria de esperar que qualquer pessoa, inclusive você, tivesse uma percepção muito parecida sobre a “imagem” contida no quadro.
Mas não é o que acontece.
Nenhum dos nossos sentidos funciona isoladamente e a percepção que temos das coisas e do mundo é a resultante da interpretação que nosso cérebro dá ao conjunto de impulsos que lhe são remetidos a cada momento pelos nosso ouvidos, olhos, etc, etc.
Tudo isso é misturado com sentimentos, lembranças, preconceitos, condicionamentos e o que mais houver dentro de nós.
O resumo da ópera é que a casa que você vê, olhando aquela foto, costuma ser muito diferente da que qualquer outra pessoa veria.
Não é lá muito simples mas vamos esticar a corda um pouco mais.
Na segunda definição o dicionário fala em “características e atributos de pessoa ou instituição tal como é vista pelo público em geral”.
Sentiram o drama?
Se olhando a foto da casa, que é real, a coisa já não era simples, imagine quando falamos de coisas etéreas e irreais ou subjetivas como as “instituições”, “atributos”, etc.
Aí a confusão é total.
A conclusão desse discurso todo é que o modo que cada um de nós percebe e se relaciona com as coisas e o mundo é inteiramente pessoal e isso pode ser muito bom, mas (sempre tem um mas) entre esta percepção e o que é real costuma haver um abismo e isto com certeza é muito ruim.
É muito fácil perceber, na nossa vida diária, como a coisa funciona. A roupa que você comprou ano passado e achou maravilhosa hoje lhe parece horrível e é exatamente a mesma roupa. Poderia encher páginas dando exemplos.
Pessoas muito espertas como políticos, padres, gurus e ultimamente os chamados marqueteiros ou, de um modo mais elegante, publicitários perceberam como esses mecanismos da mente funcionam e passaram a manipulá-los em benefício próprio ou de seus “clientes”. Deste modo nos convencem a comprar esse ou aquele produto, ver um ou outro filme, ouvir tal tipo de música, e, ultimamente, ingressar em alguma seita ou religião.
Nada muito grave, pois cedo se percebe o engano, se houver, e se ajeitam as coisas.
Mas quando se trata de política?
Como fazer quando você descobre que o candidato que lhe foi “vendido” como experiente, honesto, competente e dedicado às grandes causas é simplesmente um impostor?
No mínimo você terá que esperar uns quatro anos para trocá-lo por outro. O problema é que este outro será “vendido” da mesma forma e a história se repete.
Você vota na “imagem” de alguém e não na pessoa real que está cuidadosamente escondida e pronta para exercer o poder em benefício próprio e de seus asseclas que lhe dão suporte e nunca da maioria dos ingênuos que lhe deram os votos.
Isto é democracia?
Seguramente não.
Os pobres dos gregos, que são “acusados” de terem inventado esta farsa na verdade lidavam com as coisas de uma forma bem diferente.
Lembrem-se que naquela época as comunidades eram pequenas (em relação a hoje é claro) e as pessoas se conheciam diretamente.
Não haviam a mídia nem os marqueteiros entre você e seu candidato.
E não foram poucas as vezes que os eleitores, se sentindo traídos, resolveram a questão de modo simples e direto; uma facada nas costas do traidor e ponto final.
Não estou sugerindo de forma alguma uma solução tão radical embora, ainda hoje, alguns grupos políticos façam algo parecido com seus desafetos.
O indispensável é, de alguma forma, tirar as máscaras.
Se você mentir diante de um juiz pode ser preso.
Que fazer com quem mente diante de uma nação inteira?
Não estou falando de um ou outro político.
Estou falando de todos os políticos, sem exceção.
Pouco tempo atrás, num país que não vale a pena citar, descobriu-se que mais da metade dos deputados e senadores estavam envolvidos (devem estar ainda) com todo tipo de roubos, negociatas e crimes possíveis de imaginar.
O presidente do congresso apareceu na televisão para declarar a sua preocupação não com os fatos, mas com as conseqüências dos mesmos sobre a IMAGEM da instituição.
Com relação aos fatos nada foi nem será feito.
Quanto à IMAGEM algum marqueteiro dará um ou outro retoque e ponto final.
Segundo a ONU os países em que a democracia funciona melhor são os do norte da Europa. Suécia, Dinamarca, Finlândia, Suíça e Holanda são exemplos a serem seguidos.
Países pequenos, com alto nível cultural e administração descentralizada.
Alguém lembrou da Grécia clássica?
O espaço para a “imagem” mentirosa e desonesta fica muito menor quando as pessoas se conhecem realmente.
Que marqueteiro seria capaz de convencer você que seu vizinho semi-analfabeto e preguiçoso é um grande estadista?
Quanto mais perto da realidade conseguirmos chegar maior a possibilidade de democracia.
A equação é simples:
Mais verdade igual a mais democracia.
Mais “imagem” igual a menos democracia.
Para terminar tente lembrar da figura de seu presidente, senador ou coisa que o valha.
Você gostaria de ficar até 2012 com esta mala nas costas?