13 novembro, 2006

14 - Como gastar 1 bilhão de dólares


O telefone toca insistentemente no meio da noite, e, ao atender, ainda meio desperto meio dormindo, uma pessoa que se identifica como representante de um parente seu, que você nem se lembrava que tinha, lhe diz que o dito cujo morreu. Ainda mal refeito do susto, você é informado que o tal parente era incrivelmente rico e lhe deixou, em testamento, a quantia de um bilhão de dólares. Dito isto, o tal representante apresenta os pêsames, pede que você anote o nome e o telefone dele, se desculpa pela hora imprópria da ligação e se despede dizendo que dentro de dois ou três dias liga de novo dando maiores esclarecimentos quanto ao que será necessário fazer para receber a herança. A essa altura dos acontecimentos procure avaliar o que lhe passaria pela cabeça: Será que estou sonhando? Ou será que alguém resolveu fazer uma brincadeira de mau gosto? Por outro lado você se dá conta que nenhum dos seus amigos sabia da existência desse tal parente do qual nem você se lembrava. Aos poucos, à medida que o susto vai passando, você decide esperar pela próxima ligação, daqui a dois ou três dias, foi o que ele disse, e resolve voltar a dormir. Mas quem consegue? Mil pensamentos passam pela sua cabeça. Que fazer com esse dinheiro todo? Comprar uma casa nova? Ou, quem sabe, um avião, ou uma ou duas Ferraris (uma para trabalhar outra para passear). Com um bilhão quem vai trabalhar? O melhor é ajudar os amigos e fazer aquelas viagens que você sempre sonhou, mas, nesse caso, quem vai cuidar do dinheiro? E por mais que você pense em meios e modos de gastar o dinheiro, ao final das contas, sempre sobra um monte, pois um bilhão de dólares é, realmente, muito dinheiro. Ao final do primeiro dia você já está quase louco. Uma coisa, porém, tenho certeza absoluta que não lhe passou pela cabeça: Contratar um bando de mercenários (já que você não é o presidente do seu país e não tem um exército à disposição) para invadir e anexar o bairro vizinho e assim aumentar o seu quintal. É um total absurdo, você dirá. E é mesmo. Mas volte ao seu tempo de colégio e vá escrevendo os nomes dos “grandes heróis” que fizeram a história. Os grandes reis, imperadores, generais e presidentes (aqueles que você se lembra) fizeram, ou tentaram fazer, mais ou menos isso, aumentar o quintal de casa. Na vida de todos eles, ou quase todos, há um rastro de morte e destruição. Quantas foram as vítimas dos exércitos de Alexandre, Júlio César, Napoleão e outros tantos? E é fácil encontrar estátuas de todos eles espalhadas pelo mundo afora. Eles são lembrados com respeito e reverência. Como você vê, vivemos num mundo louco, pois, ainda hoje, temos alguns dementes tentando entrar na história pela mesma porta que estas “grandes” figuras do passado. Com um bilhão de dólares você consegue invadir o Iraque e ficar pelo menos uns três ou quatro meses por lá matando um bocado de gente. Com um tanto de sorte e um pouco mais de competência do que os que tentaram essa aventura até agora, talvez você consiga, por este caminho, escrever seu nome no panteon dos imortais. Está gostando da idéia? Você montado num cavalo branco desfilando pelas ruas de Bagdá, não é o máximo? Pois é, meu caro, o dinheiro e o poder que vem com ele enlouquecem as pessoas. Assim, como gosto de finais felizes, vamos continuar imaginando. O representante do tal parente telefonou ao final do terceiro dia e disse que houve um lamentável engano. O falecido tinha também muitas dívidas e, feitas as contas, o que sobrou para você foi um grande quadro com uma inscrição em caracteres de uma língua desconhecida, mas visivelmente, muito antiga. Feita a tradução essa era a frase: “O detentor deste quadro deve deixar de pensar bobagens e tratar de ser feliz e viver intensamente cada minuto de sua vida porque 2012 está chegando”. Estranho, não?