23 julho, 2007

38 – Lula renunciou



“Quem conta um conto aumenta um ponto”, diz a sabedoria popular.
De minha parte afirmo que não aumentei nada, mas sendo o meu informante do PT e íntimo do presidente, tenho que admitir que não deve ser flor que se cheire.
A história aqui vai como me foi passada e o leitor tire suas conclusões.
Quando voltou a Brasília depois da vaia que levou na abertura do Pan-americano, Lula estava diferente. Parecia triste, e tão logo chegou, mandou desmarcar toda a agenda da semana seguinte.
Como havia as competições para assistir, e trabalhar não é coisa que ele goste muito, ninguém deu muita importância ao fato.
Com o passar dos dias, porém, vieram as primeiras indicações que as coisas não iam bem.
O presidente passava o tempo todo no seu quarto ou nos jardins da casa em passeios silenciosos.
Houve um dia em que se recusou até a trocar o pijama por uma roupa mais adequada, informal que fosse, para sua caminhada matinal.
O pessoal mais próximo começou a ficar realmente preocupado, mas imaginou que talvez fosse algum mal estar passageiro ou uma dor no ombro que volta e meia incomodava o presidente quando ele fazia muito esforço assinando uma ou outra medida provisória.
Quando a primeira dama comentou com as amigas que vão sempre jogar cartas com ela, que achava que o Lula andava lendo a bíblia (um livrão grosso que ela não sabia bem o que era) ficou claro que algo muito diferente estava acontecendo.
Atendendo ao conselho das parceiras ela resolveu ficar mais atenta e tão logo o joguinho acabou foi aos aposentos reais.
O presidente, que continuava triste, estava na cama vendo na televisão sua novela preferida quando entrou no ar, ao vivo, o acidente com o avião da TAM.
Lula explodiu num pranto absolutamente descontrolado.
Começou a quebrar o que encontrava pela frente, ao mesmo tempo em que gritava: Eu sou o culpado, esta gente morreu por minha causa, não agüento mais viver carregando esta culpa comigo.
“Dona Coisa” (é como o pessoal da copa se refere a ela) foi em busca de um copo d’água com açúcar para acalmar o presidente e, ao voltar, lá estava ele, olhos pregados na TV chorando convulsivamente.
Depois de algum tempo, aparentemente mais calmo, ele pediu a ela, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que lhe trouxesse umas folhas de papel e uma caneta porque ele ia escrever uma carta ao Congresso comunicando que renunciava irrevogavelmente (ele nem gaguejou) à presidência da república.
Ela ainda pensou em argumentar, mas o olhar do marido a fez mudar de idéia.
Ao sair do quarto para buscar as tais folhas e a caneta ia pensando no que fazer pois a situação estava ficando fora de controle.
Se o camarada renunciasse mesmo que seria dela, da família e daqueles inúteis todos que vivem em torno deles?
Afinal de contas não fazia sentido abrir mão de tudo que conquistaram com o esforço de tantos anos só por causa de uma vaia e de duzentos inocentes mortos.
Já de volta com o papel e a caneta, um pouco mais calma, ia conjecturando; até ele conseguir abrir a caneta e escrever o cabeçalho vou ter pelo menos duas horas para pedir ajuda.
Entregue a encomenda ela foi para uma sala próxima e tratou de requisitar reforços para superar a crise. Chamou a família toda, inclusive aquele irmão dele que é padre.
Como o Lula estava ainda com a bíblia nas mãos talvez um padre fosse de alguma serventia. Chamou também D. Dilma (lembrou que sempre que alguma coisa ia mal ela era chamada).
Finalmente ligou para o médico do presidente, resumiu a situação e pediu que ele viesse com a maior urgência pois a coisa era realmente grave.
O primeiro a chegar foi o médico que imediatamente foi ao encontro do presidente.
Lá estava ele, diante da TV, as lágrimas escorrendo pelo rosto, olhos pregados na tela vendo as imagens do desastre.
Ao perceber a chegada do amigo (se conheciam desde os tempos das greves do ABC) Lula abriu o coração:
“Já não agüento mais ser presidente”.
Como vou olhar para a família dessa gente?
Como vou olhar para o povo humilde que apesar de tudo ainda confia em mim?
Como poderei suportar a culpa de todas as canalhices que fiz e que deixei fazer para encher de dinheiro e poder esses vagabundos e escroques que me cercam, inclusive minha família?
E ele não parava. Falou sobre mensalão, sobre o que fez com a VARIG para ajudar seus amigos da TAM e da GOL, sobre sanguessugas, sobre isso, sobre aquilo e só conseguiu parar depois de muito tempo.
Finalmente perguntou:
Onde estava com a cabeça quando perpetrei tanta barbaridade?
Parecia estar exausto porém tranqüilo.
Aqui está, meu amigo, a carta em que renuncio ao cargo.
Peço que você a entregue a quem de direito e que também informe aos meios de comunicação.
Estarei esperando e, se em duas horas você não estiver de volta, darei um tiro na cabeça.


Lula renunciou

Parte II – O Retorno

O médico ouviu tudo aquilo perplexo.
O Lula que conhecia havia tanto tempo não era o que estava diante dele.
A pessoa que estava ali falando, abrindo seu coração, era decente, ética e honestamente arrependida dos erros que pudesse ter cometido.
Além disso se expressava num português correto, sem tropeços nem gírias ou palavrões.
As concordâncias também eram perfeitas e os plurais impecáveis.
Que teria havido?
De repente uma lembrança explodiu em sua mente.
Quando o presidente Bush (o filho) esteve no Brasil ele foi incumbido de acompanhar o médico particular do dito cujo.
Como o colega era muito afável acabaram ficando amigos e, durante um jantar que ofereceu ao americano acabou ouvindo uma história muito parecida.
Eles, entre uma caipirinha e outra, comentavam sobre as semelhanças entre os dois presidentes. Um e outro gostavam de uns drinks. Um e outro não eram lá de trabalhar muito, nem de assumir responsabilidades. Um e outro sempre atribuíam seus próprios erros a terceiros e aí por diante.
Já alta noite, muitas caipirinhas depois, o americano lhe fez uma confidência:
Poucas semanas antes de vir ao Brasil o presidente americano teve o que ele chamou de surto psicótico. Chamado às pressas para atender o presidente encontrou-o num quadro, lembrou o nosso doutor, que era exatamente igual ao de nosso Lula.
O cowboy chorava, dizia coisas desconexas sobre o Iraque, etc, etc,.
Como ninguém tinha a menor idéia do que estava acontecendo trataram de ligar um monte de eletrodos na cabeça do cidadão para, utilizando um equipamento de última geração, verificar o funcionamento de suas funções cerebrais.
E aí veio a grande surpresa.
Estava tudo funcionando com perfeição. Exatamente como uma pessoa normal e não com os cinco por cento que o presidente conseguia utilizar habitualmente.
A causa da disfunção teria sido um forte choque emocional que Bush filho teve ao saber que inadvertidamente tinham jogado fora seu ursinho de pelúcia.
A violenta emoção teria conectado neurônios adormecidos e acionado partes do cérebro que exames anteriores mostravam estarem inertes.
O problema foi resolvido com uma dose potente de tranqüilizantes.
Depois de umas tantas horas de sono o nosso Bush voltou ao normal e não se lembrou de nada da noite anterior. Nem percebeu que tinham posto um ursinho novo no lugar do antigo.
Tudo isso foi lembrado em segundos.
Olhando Lula bem nos olhos falou:
Presidente, somos amigos há muitos anos e vou lhe fazer um pedido. A atitude que o senhor está tomando é de grande importância e terá conseqüências graves. É absolutamente necessário que o senhor esteja fortalecido para evitar que suas boas intenções sejam desvirtuadas pelos políticos.
Nada como uma boa noite de sono para enfrentar o dia de amanhã.
Tome este comprimido, durma tranqüilamente pois ficarei aqui a seu lado e amanhã de manhã faremos o que o senhor determinar.
Lula pensou um pouco, pegou o comprimido e com um pouco d’água o engoliu.
Foi o tempo de deitar e apagar.
A noite que se seguiu foi a mais longa da vida daquelas pessoas que se amontoavam na antecâmara (quarto de presidente tem antecâmara).
Cada minuto que passava era uma eternidade até o momento em que o doutor abriu a porta do quarto e anunciou:
O presidente está acordado, podem entrar.
Quando viu aquela gente toda dentro do quarto olhando para ele o presidente abriu aquele seu sorriso de sempre e perguntou:
“Que qui houve cambada, o Nenê Constantino já mandou a mesada de ocês?”
Tudo voltara ao normal.
Ao se despedir da primeira dama que era só gratidão e alegria, o médico fez uma última recomendação:
Vou deixar com a senhora esses comprimidos, só por cautela, é bom que ele tome um por dia para evitar recaída.

P.S. – Incrédulo que sou perguntei ao meu informante:
Você tem alguma prova do que me contou?
Ele respondeu:
Tenho a cópia da carta de renúncia que o médico, por precaução, guardou com ele.
Mas não vai servir para nada pois está tão bem redigida que nem Deus, que foi testemunha, vai acreditar que foi o Lula que escreveu.



12 julho, 2007

37 - Parcerias Público Privadas



Como todos sabem, o chamado programa de parcerias público privadas é um dos muitos que o atual governo proclama como solução dos problemas que retardam o desenvolvimento do país.
A coisa não é difícil de entender, mas vamos tentar simplificar.
Suponha que você tenha um terreno e o projeto de um prédio para ser construído nele, mas não tem o dinheiro necessário para o empreendimento. Como seu vizinho é dono de uma próspera construtora você faz um acordo com ele: você entra com o terreno e o projeto e ele com os recursos necessários. Concluída a construção vocês vendem o prédio repartindo os lucros da forma que previamente pactuaram.
Simples, não?
Imagine agora como fazer o negócio se você não tivesse nem o terreno, nem o projeto.
É mais ou menos isso o que está acontecendo com os planos anunciados a todo momento pelas nossas autoridades.
Como estabelecer as regras do jogo para fazer uma parceria para construção de uma estrada entre as cidades A e B se não existe um projeto de engenharia perfeitamente desenvolvido para que possa ser quantificado e desse modo conciliar os interesses legítimos dos parceiros? E mais ainda, se um dos parceiros (o governo) como todos sabem, não gosta de respeitar os contratos que assina.
A capacidade dos nossos governantes de prever o custo das obras em que se metem é realmente fantástica.
O exemplo mais recente é do Pan 2007.
O investimento previsto pelos responsáveis para o evento foi de cerca de R$300 milhões (em números de 2003).
Gastaram mais de R$3 bilhões.
Como seria possível fazer uma parceria com sócios tão irresponsáveis?
É preciso porém, não perder as esperanças e reconhecer que alguns esforços já estão sendo feitos pelos nossos políticos para tornar estas parcerias possíveis, e até certo ponto efetivas, embora um tanto desastradas.
Ao que parece eles confundiram, mais não foi por mau, interesses públicos com interesses de homens públicos.
Assim, um senador fez uma parceria com uma empreiteira para que pagasse algumas continhas pessoais lá dele. Naturalmente ele estava muito ocupado cuidando de seus afazeres no congresso e não tinha tempo para ir ao banco fazer os depósitos.
Um outro senador, também por não ter tempo (ele se dedica exclusivamente aos interesses da pátria) fez uma parceria com um conhecido empresário para lhe arranjar uns trocados para comprar uma bezerra. Foi
uma operação meio curiosa, mas como por em dúvida a seriedade das partes?
Nosso presidente, no início do seu primeiro mandato, ao visitar o Alvorada, concluiu que aquele barraco precisava de uma reforma para receber a família real. Afinal ele não estava acostumado a morar sem o conforto condizente com o padrão de vida que sempre teve.
Foi só chamar o arquiteto da corte e mais dezesseis grandes empresários e o dinheiro apareceu. Como a coisa funcionou, ele fez uma outra parceria e transformou seu filhinho (“o ronaldinho da informática”) em milionário do dia para a noite.
Pelos exemplos acima podemos perceber que nossas autoridades estão trabalhando e fazendo, lá ao seu jeito, suas parcerias.
O que é preciso esclarecer, se for possível, são os ganhos e recompensas dados aos parceiros privados pelos seus “investimentos”.
Ou será que eles fazem tudo isso por altruísmo?
A resposta fica a cargo de cada um de vocês, mas, só por curiosidade, li no jornal de hoje que na China executaram um ex ministro, condenado como corrupto, por trapalhadas semelhantes.
Ainda bem que aqui não se faz uma maldade desta, do contrário Brasília seria uma cidade fantasma.