09 novembro, 2006

13 – Mães / Pais / Filhos


A televisão é, sem sombra de dúvida, um extraordinário veículo de informação e, para o bem e para o mal, uma vitrine das transformações sociais e do comportamento humano nos dias que vivemos.
Há programas sobre tudo que se possa imaginar e, deixando de lado os que são ou pretendem ser puro entretenimento, é possível encontrar em alguns canais, matérias que devem ser vistas e revistas, pois seu conteúdo merece uma profunda reflexão.
O que me chamou atenção, alguns dias atrás foi um documentário feito pela BBC sobre ursos.
Três equipes foram destacadas, cada uma delas para um local diferente, com a missão de acompanhar o dia a dia de uma família de ursos.
As famílias, no caso, são as mamães urso e seus filhotes, pois os papais urso, a exemplo de muitos pais humanos, após a fecundação das fêmeas simplesmente somem.
Além da qualidade técnica das filmagens e da beleza extraordinária das locações é impossível não perceber o envolvimento emocional das equipes com as cenas que se desenrolam diante de seus olhos.
O carinho e a atenção das mães com seus filhotes chega a ser comovente, pois são animais enormes que chegam a pesar mais de trezentos quilos.
Durante dois anos elas se ocupam, vinte e quatro horas por dia, em proteger, alimentar e preparar os filhotes para a vida adulta.
Isto tudo, que seguramente não é pouco, sem o menor sinal de impaciência ou ansiedade.
Esta é a sua missão e parece que elas estão perfeitamente à vontade com a tarefa que lhes foi reservada pela natureza.
E as mães humanas?
Quantas você conhece que são capazes da mesma dedicação?
É evidente que nossa sociedade é imensamente mais complexa e há mil e uma explicações para o comportamento absurdo que vemos a todo o momento nas mamães humanas com seus filhos.
O fato de nossa cultura nos afastar cada vez mais da natureza devia ser assumido por todos nós e levado em conta nos momentos e que fazemos nossas opções de vida.
A ursa não tem escolha, a cada dois anos ela vai acasalar ter seus filhos e zelar para que eles se criem e a espécie seja perpetuada.
As humanas têm escolha, ter ou não ter filhos, e deveriam fazer suas opções com liberdade e de maneira consciente.
Afinal de contas se há uma coisa que sobra no mundo é gente; muita gente.
Porque continuam a produzir filhos se grandes partes delas não tem a menor vocação para isto?
Não é crime preferir o sucesso profissional ou uma vida mais livre e despreocupada.
Mas crianças, a exemplo dos bebês ursos, precisam de mães disponíveis e amorosas vinte e quatro horas por dia, nos primeiros anos de suas vidas.
Todo mundo sabe disso.
E todo mundo sabe também das conseqüências para as crianças de um início de vida com os pais ausentes.
A empresa em que trabalhei, durante muitos anos, era ao lado de uma creche. Todas as manhãs os carros se acumulavam na nossa porta com os pais despejando os filhos na creche. De noite era a mesma agonia, eles vinham buscá-los.
Porque ter filhos e deixá-los na mão de terceiros para cuidá-los?
Se a resposta que está na ponta da sua língua é que a mãe precisa trabalhar fora para poder manter o filho, não fale.
Você sabe que não é bem assim. Pelo menos para as que deixavam seus bebês lá, junto ao nosso escritório.
Voltaremos ao assunto mais adiante, mas pensem nele.
Enquanto isso lembrem dos bebês urso e morram de inveja.