28 novembro, 2006

18 - DEMOCRACIA – IMAGEM



Democracia, como todos sabem, é o sistema político em que os governantes são escolhidos através do voto popular.
Com relação à imagem a definição já não é tão precisa.
Consultando o dicionário encontrei:
Do latim imagine – s.f
Representação, reprodução ou imitação da forma de uma pessoa ou objeto.
Conjunto de características e atributos de uma pessoa ou instituição tal como é vista pelo público em geral.
As duas definições se completam, de certa forma, sendo uma a extensão da outra.
Nesta extensão é que as coisas começam a se complicar.
Suponha que você, revolvendo seus guardados, encontre uma fotografia da casa em que viveu quando criança.
Como é a simples representação gráfica de algo real e concreto seria de esperar que qualquer pessoa, inclusive você, tivesse uma percepção muito parecida sobre a “imagem” contida no quadro.
Mas não é o que acontece.
Nenhum dos nossos sentidos funciona isoladamente e a percepção que temos das coisas e do mundo é a resultante da interpretação que nosso cérebro dá ao conjunto de impulsos que lhe são remetidos a cada momento pelos nosso ouvidos, olhos, etc, etc.
Tudo isso é misturado com sentimentos, lembranças, preconceitos, condicionamentos e o que mais houver dentro de nós.
O resumo da ópera é que a casa que você vê, olhando aquela foto, costuma ser muito diferente da que qualquer outra pessoa veria.
Não é lá muito simples mas vamos esticar a corda um pouco mais.
Na segunda definição o dicionário fala em “características e atributos de pessoa ou instituição tal como é vista pelo público em geral”.
Sentiram o drama?
Se olhando a foto da casa, que é real, a coisa já não era simples, imagine quando falamos de coisas etéreas e irreais ou subjetivas como as “instituições”, “atributos”, etc.
Aí a confusão é total.
A conclusão desse discurso todo é que o modo que cada um de nós percebe e se relaciona com as coisas e o mundo é inteiramente pessoal e isso pode ser muito bom, mas (sempre tem um mas) entre esta percepção e o que é real costuma haver um abismo e isto com certeza é muito ruim.
É muito fácil perceber, na nossa vida diária, como a coisa funciona. A roupa que você comprou ano passado e achou maravilhosa hoje lhe parece horrível e é exatamente a mesma roupa. Poderia encher páginas dando exemplos.
Pessoas muito espertas como políticos, padres, gurus e ultimamente os chamados marqueteiros ou, de um modo mais elegante, publicitários perceberam como esses mecanismos da mente funcionam e passaram a manipulá-los em benefício próprio ou de seus “clientes”. Deste modo nos convencem a comprar esse ou aquele produto, ver um ou outro filme, ouvir tal tipo de música, e, ultimamente, ingressar em alguma seita ou religião.
Nada muito grave, pois cedo se percebe o engano, se houver, e se ajeitam as coisas.
Mas quando se trata de política?
Como fazer quando você descobre que o candidato que lhe foi “vendido” como experiente, honesto, competente e dedicado às grandes causas é simplesmente um impostor?
No mínimo você terá que esperar uns quatro anos para trocá-lo por outro. O problema é que este outro será “vendido” da mesma forma e a história se repete.
Você vota na “imagem” de alguém e não na pessoa real que está cuidadosamente escondida e pronta para exercer o poder em benefício próprio e de seus asseclas que lhe dão suporte e nunca da maioria dos ingênuos que lhe deram os votos.
Isto é democracia?
Seguramente não.
Os pobres dos gregos, que são “acusados” de terem inventado esta farsa na verdade lidavam com as coisas de uma forma bem diferente.
Lembrem-se que naquela época as comunidades eram pequenas (em relação a hoje é claro) e as pessoas se conheciam diretamente.
Não haviam a mídia nem os marqueteiros entre você e seu candidato.
E não foram poucas as vezes que os eleitores, se sentindo traídos, resolveram a questão de modo simples e direto; uma facada nas costas do traidor e ponto final.
Não estou sugerindo de forma alguma uma solução tão radical embora, ainda hoje, alguns grupos políticos façam algo parecido com seus desafetos.
O indispensável é, de alguma forma, tirar as máscaras.
Se você mentir diante de um juiz pode ser preso.
Que fazer com quem mente diante de uma nação inteira?
Não estou falando de um ou outro político.
Estou falando de todos os políticos, sem exceção.
Pouco tempo atrás, num país que não vale a pena citar, descobriu-se que mais da metade dos deputados e senadores estavam envolvidos (devem estar ainda) com todo tipo de roubos, negociatas e crimes possíveis de imaginar.
O presidente do congresso apareceu na televisão para declarar a sua preocupação não com os fatos, mas com as conseqüências dos mesmos sobre a IMAGEM da instituição.
Com relação aos fatos nada foi nem será feito.
Quanto à IMAGEM algum marqueteiro dará um ou outro retoque e ponto final.
Segundo a ONU os países em que a democracia funciona melhor são os do norte da Europa. Suécia, Dinamarca, Finlândia, Suíça e Holanda são exemplos a serem seguidos.
Países pequenos, com alto nível cultural e administração descentralizada.
Alguém lembrou da Grécia clássica?
O espaço para a “imagem” mentirosa e desonesta fica muito menor quando as pessoas se conhecem realmente.
Que marqueteiro seria capaz de convencer você que seu vizinho semi-analfabeto e preguiçoso é um grande estadista?
Quanto mais perto da realidade conseguirmos chegar maior a possibilidade de democracia.
A equação é simples:
Mais verdade igual a mais democracia.
Mais “imagem” igual a menos democracia.
Para terminar tente lembrar da figura de seu presidente, senador ou coisa que o valha.
Você gostaria de ficar até 2012 com esta mala nas costas?

26 novembro, 2006

17 – Gripe das aves



Muito se tem falado sobre o assunto e ele aparece e some do noticiário de tempos em tempos.
No mundo em que vivemos, dominado pela mídia, fica-se com a impressão que um problema só existe quando aparece nos meios de comunicação. Se estiver nas primeiras páginas dos jornais e nas chamadas dos noticiários de TV e rádio então a coisa é grave. Se estiver nas páginas internas já não é tão grave ou está sendo revolvido.
Quando desaparece ficamos com a sensação que está tudo bem.
Não podemos culpar ninguém por isso uma vez que será difícil vender um jornal que tenha sempre a mesma manchete na primeira página.
Mas talvez fosse uma boa idéia reservar um espaço numa das páginas internas para problemas relevantes que, embora denunciados pela mídia e pela opinião pública, os governos insistam em não resolver.
Seria mais ou menos assim:
Problemas já noticiados e não resolvidos.
1º Explosão demográfica
Reportagens e artigos já publicados – 150.000
Providências tomadas – nenhuma
2º Poluição ambiental / aquecimento global
Reportagens e artigos já publicados – 200.000
Providências tomadas – nenhuma
E assim por diante
Poderia haver também um site na internet disponibilizando estas informações a todos os interessados.
Não tenho dúvidas que, conduzido por um jornalista talentoso este projeto seria um grande sucesso e serviria, inclusive, como fonte de informações para as populações em época de eleições ou plebiscitos de modo que os eleitores pudessem cobrar dos candidatos comprometimento com a solução destes problemas.
Quem sabe não seria também uma boa idéia listar as promessas eleitorais de cada partido e o que realmente fosse cumprido durante seus governos?
A mídia só se ocupa do imediato e deixa assim, no esquecimento informações sobre o passado recente que poderiam influenciar de maneira positiva o futuro.
Ninguém gosta de cometer duas vezes o mesmo erro mas é comum que isto ocorra, pois diante da quantidade imensa de informações contraditórias veiculadas diariamente as pessoas esquecem o que fizeram algumas semanas antes.
A gripe das aves estaria seguramente nesta página, pendendo como um cutelo sobre nossas cabeças.
Cada vez que um foco da doença é localizado sacrificam-se uns tantos frangos e ficamos todos torcendo que a coisa pare por aí mesmo.
Mas não para.
Já apareceu em outras aves inclusive migratórias.
Como até o momento os seres humanos contaminados foram os que tiveram contato direto com as aves e, aparentemente a doença não passa de pessoa para pessoa, a única preocupação parece ser que isso não venha a ocorrer devido a alguma mutação no vírus.
A possibilidade de difusão da doença entre os humanos realmente é de tirar o sono de qualquer um.
Mas o que aconteceria se a doença crescesse de maneira explosiva apenas entre as aves nos deixando, por algum milagre, imunes a ela?
Seria menos danosa para nós?
Seguramente não.
As aves estão no meio da cadeia alimentar dos ecossistemas e são parte essencial dos mesmos.
Elas se alimentam de insetos, roedores e outros organismos que, sem predadores se transformariam em pragas com conseqüências imprevisíveis.
Além disso, são alimento indispensável para outras tantas espécies inclusive a nossa.
E a polinização das flores e a difusão das sementes indispensáveis para a reprodução de inúmeras famílias vegetais?
É impossível avaliar o tamanho da calamidade.
Uma situação como esta mostra com clareza como é vulnerável a nossa sobrevivência no planeta.
Estamos, a cada dia que passa, encurtando o tempo ainda disponível para evitar o pior.
Se nada for feito e alguma solução encontrada teremos duas opções: morrer de gripe ou de fome.
Não é animador?

19 novembro, 2006

16 – Bomba Atômica


O General Sun Tsu, em seu livro A ARTE DA GUERRA, escrito há mais de dois mil anos dizia:
“A vitória sobre o inimigo só é alcançada quando este perde a disposição de luta”
Dependendo da tradução, ou do autor que faz a compilação das máximas do ilustre guerreiro, as palavras podem variar um pouco, mas a essência é a mesma.
A crença na vitória é uma das maiores armas de um exército.
Esta confiança pode ser quebrada de diversas formas.
Na segunda grande guerra mundial (1939/1945) a capitulação do Japão se deveu ao aparecimento de uma nova arma, de poder avassalador, que foi usada por seus oponentes americanos em duas oportunidades.
O número de vítimas, cerca de duzentas mil, embora elevados, não me parece que tenha sido o fator determinante do armistício.
Afinal de contas, a esta altura, já haviam morrido, durantes os seis anos que durou o conflito, mais de cinqüenta milhões de pessoas.
O que derrubou o moral dos japoneses foi o desconhecimento sobre a nova arma.
Se duas bombas fizeram um estrago deste tamanho o que viria depois?
A guerra acabou e esperava-se que tivesse sido a última, tais os sacrifícios e privações que todos os países do mundo, ou quase todos, sofreram naquela época e nos anos seguintes no esforço de reconstrução.
Além disso, como só os americanos possuíam a tal arma esperava-se que ninguém se atrevesse a enfrentá-los.
Infelizmente o ser humano não aprende com a experiência.
Em pouco tempo o conhecimento necessário à construção das bombas atômicas já estava disponível para vários países que não tiveram a menor dúvida em sair fabricando este novo “brinquedo” em quantidades e modelos os mais variados (bombas, ogivas de mísseis e torpedos, etc., etc.,).
Hoje, pelo que se sabe, cerca de dez países tem a bomba e o estoque de artefatos nucleares armazenados é suficiente para destruir o planeta pelo menos sete vezes (isto dá a medida da estupidez, pois se o mundo for destruído uma vez quem estará aí para destruí-lo outras seis?)
Bilhões e bilhões de dólares foram gastos, pois a brincadeira não é barata, mas isto não foi obstáculo para que países pobres também entrassem no clube e que, ainda hoje, haja uns dois ou três na fila batendo na porta.
Resumindo a ópera: “Para que serve a tal bomba que uns tantos idiotas tem e outros tantos querem ter?”.
A resposta é: RIGOROSAMENTE PARA NADA.
O que se esperava, quando o tal apetrecho foi inventado é que, a exemplo do que aconteceu com o Japão, ninguém mais tivesse a disposição necessária para se meter em aventuras militares, ante a ameaça de deflagrar um conflito de proporções imprevisíveis.
Mas os senhores da guerra logo descobriram que, devido às características da tal bombinha, era impossível controlar os seus efeitos nas guerras, por assim dizer, de pequeno porte.
Os efeitos colaterais são muito grandes e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Além disso, quem tem coragem para atirar a primeira pedra?
Já passados bem mais de 50 anos dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, milhares de artefatos nucleares já foram fabricados (e devem estar guardados em algum canto, aí pelo mundo) e nenhum, graças a Deus foi utilizado.
Sabem por quê?
POR MEDO!!!
Vocês acham que o dedo dos americanos não coçou quando estavam perdendo a guerra do Vietnam?
E se os chineses e russos ficassem zangados quais seriam as conseqüências?
Atualmente, num mundo totalmente globalizado e entupido de gente até a tampa é impossível repetir o feito do Enola Gay (bombardeiro que jogou as bombas no Japão) sem atingir o próprio pé.
Joguem uma bomba no Iraque e depois fiquem trinta anos esperando diminuir a radiação nuclear para poder comprar petróleo dos árabes; uma bombinha na Coréia do Norte e logo teremos umas nuvenzinhas radioativas na Coréia do Sul e por aí a coisa vai.
Não temos, pois que nos preocupar com os dois maluquinhos que estão aflitos para fazer suas bombinhas (o do Irã e o da Coréia do Norte) não há nenhum sintoma muito relevante que eles sejam mais irresponsáveis e idiotas que os outros que já têm a bomba.
Enquanto eles gastam um dinheirão nesta brincadeira boba não estão fazendo coisas piores.
E, afinal de contas segundo os especialistas de plantão eles vão precisar de mais uns tantos anos para o brinquedo ficar pronto.

E 2012 VAI CHEGAR ANTES, COM CERTEZA!

16 novembro, 2006

15 – Plantando árvores


Antes de qualquer coisa olhe bem a foto dessa senhora logo acima.
O nome dela é WANGARI MAATHAI.
Você já a conhecia?
Meus parabéns se a resposta foi sim.
Quanto a mim tomei conhecimento da dita através de um programa de TV cerca de quinze dias atrás.
Tratava-se de uma entrevista e infelizmente só vi os últimos quinze minutos, mas foram suficientes para despertar minha curiosidade a respeito do trabalho dela.
Sua figura marcante com um sorriso quase sempre presente além do traje colorido e uma pronúncia muito peculiar da língua inglesa não tem como passar despercebida.
No momento em que sintonizei a TV ela falava da sua infância passada numa pequena aldeia no Quênia.
A vida era simples, mas ninguém se sentia pobre, pois a natureza era generosa e, com o que se coletava na floresta e nos rios próximos, acrescido das lavouras e criações domésticas cuidadas pelas mulheres, tinha-se bem mais do que o necessário para uma existência sem privações.
Quando voltou a aldeia natal alguns anos depois (não sei quantos, pois perdi essa parte) ficou desolada com o que viu.
A simplicidade da vida sem privações na aldeia na época tinha dado lugar a um quadro de extrema pobreza.
Miséria mesmo.
Ao invés de sentar e ficar estudando, como o nosso “demógrafo” (vide n° 11) ela, que a esta altura já tinha se formado em biologia ou algo do gênero pos mãos à obra.
As causas da decadência local eram nítidas e só um intelectual ou político ou alguma inutilidade do gênero seria capaz de não percebê-las ou de não agir imediatamente para saná-las a medida que foram aparecendo.
Desertificação, assoreamento e queda de vazão dos rios, etc., etc., tudo como conseqüência direta do desmatamento.
Não é meu propósito entrar em minúcias sobre como se iniciou e se desenvolveu o Movimento do Cinturão Verde (The Green Belt Movement) criado por ela, nem seus efeitos colaterais (também de grande benefício para as populações envolvidas).
O que importa é que identificado o problema ela agiu.
Se faltam árvores vamos plantá-las, ponto final.
Em quase 30 anos de trabalho intenso, enfrentando e vencendo todo tipo de obstáculos vem mobilizando as mulheres pobres da África a plantarem 30 milhões de árvores.
Se já atingiu esta meta eu não sei, na pior das hipóteses, deve estar muito perto.
Em 2004 a nossa amiga recebeu o prêmio Nobel da Paz.
Este é o final feliz?
Antes de responder tenho algumas perguntas:
1° Por que os velhinhos que distribuem o prêmio Nobel (não sei porque acho que são todos bem velhinhos) só premiaram seu trabalho depois de 30 anos?
2° Por que os governantes de todos os países do mundo não adotaram as idéias absolutamente simples e objetivas do projeto?
3° Onde estavam os intelectuais, jornalistas, estudantes, professores, religiosos e outros formadores de opinião, pelo mundo afora, que só após a premiação deram algum destaque ao projeto?
Para estas perguntas eu tenho resposta:
“ESTAVAM DORMINDO”
Infelizmente esta história não tem final feliz.
Enquanto as mulheres africanas plantam suas árvores as madeireiras derrubam impiedosamente as florestas da América do Sul e do norte da Ásia, e de onde houver governantes complacentes que não lhes fechem as portas.
Vocês acham que essa gente que levou 30 anos para descobrir e premiar o valor da nossa amiga vai conseguir fazer alguma coisa até 2012?
Enquanto pensam sugiro que pesquisem na Internet ou, onde for possível, mais informações sobre o GREEN BELT e sua fundadora e divulguem o que encontrarem.
Sempre é bom pensar que, quem sabe, um milagre ainda pode acontecer.

13 novembro, 2006

14 - Como gastar 1 bilhão de dólares


O telefone toca insistentemente no meio da noite, e, ao atender, ainda meio desperto meio dormindo, uma pessoa que se identifica como representante de um parente seu, que você nem se lembrava que tinha, lhe diz que o dito cujo morreu. Ainda mal refeito do susto, você é informado que o tal parente era incrivelmente rico e lhe deixou, em testamento, a quantia de um bilhão de dólares. Dito isto, o tal representante apresenta os pêsames, pede que você anote o nome e o telefone dele, se desculpa pela hora imprópria da ligação e se despede dizendo que dentro de dois ou três dias liga de novo dando maiores esclarecimentos quanto ao que será necessário fazer para receber a herança. A essa altura dos acontecimentos procure avaliar o que lhe passaria pela cabeça: Será que estou sonhando? Ou será que alguém resolveu fazer uma brincadeira de mau gosto? Por outro lado você se dá conta que nenhum dos seus amigos sabia da existência desse tal parente do qual nem você se lembrava. Aos poucos, à medida que o susto vai passando, você decide esperar pela próxima ligação, daqui a dois ou três dias, foi o que ele disse, e resolve voltar a dormir. Mas quem consegue? Mil pensamentos passam pela sua cabeça. Que fazer com esse dinheiro todo? Comprar uma casa nova? Ou, quem sabe, um avião, ou uma ou duas Ferraris (uma para trabalhar outra para passear). Com um bilhão quem vai trabalhar? O melhor é ajudar os amigos e fazer aquelas viagens que você sempre sonhou, mas, nesse caso, quem vai cuidar do dinheiro? E por mais que você pense em meios e modos de gastar o dinheiro, ao final das contas, sempre sobra um monte, pois um bilhão de dólares é, realmente, muito dinheiro. Ao final do primeiro dia você já está quase louco. Uma coisa, porém, tenho certeza absoluta que não lhe passou pela cabeça: Contratar um bando de mercenários (já que você não é o presidente do seu país e não tem um exército à disposição) para invadir e anexar o bairro vizinho e assim aumentar o seu quintal. É um total absurdo, você dirá. E é mesmo. Mas volte ao seu tempo de colégio e vá escrevendo os nomes dos “grandes heróis” que fizeram a história. Os grandes reis, imperadores, generais e presidentes (aqueles que você se lembra) fizeram, ou tentaram fazer, mais ou menos isso, aumentar o quintal de casa. Na vida de todos eles, ou quase todos, há um rastro de morte e destruição. Quantas foram as vítimas dos exércitos de Alexandre, Júlio César, Napoleão e outros tantos? E é fácil encontrar estátuas de todos eles espalhadas pelo mundo afora. Eles são lembrados com respeito e reverência. Como você vê, vivemos num mundo louco, pois, ainda hoje, temos alguns dementes tentando entrar na história pela mesma porta que estas “grandes” figuras do passado. Com um bilhão de dólares você consegue invadir o Iraque e ficar pelo menos uns três ou quatro meses por lá matando um bocado de gente. Com um tanto de sorte e um pouco mais de competência do que os que tentaram essa aventura até agora, talvez você consiga, por este caminho, escrever seu nome no panteon dos imortais. Está gostando da idéia? Você montado num cavalo branco desfilando pelas ruas de Bagdá, não é o máximo? Pois é, meu caro, o dinheiro e o poder que vem com ele enlouquecem as pessoas. Assim, como gosto de finais felizes, vamos continuar imaginando. O representante do tal parente telefonou ao final do terceiro dia e disse que houve um lamentável engano. O falecido tinha também muitas dívidas e, feitas as contas, o que sobrou para você foi um grande quadro com uma inscrição em caracteres de uma língua desconhecida, mas visivelmente, muito antiga. Feita a tradução essa era a frase: “O detentor deste quadro deve deixar de pensar bobagens e tratar de ser feliz e viver intensamente cada minuto de sua vida porque 2012 está chegando”. Estranho, não?

09 novembro, 2006

13 – Mães / Pais / Filhos


A televisão é, sem sombra de dúvida, um extraordinário veículo de informação e, para o bem e para o mal, uma vitrine das transformações sociais e do comportamento humano nos dias que vivemos.
Há programas sobre tudo que se possa imaginar e, deixando de lado os que são ou pretendem ser puro entretenimento, é possível encontrar em alguns canais, matérias que devem ser vistas e revistas, pois seu conteúdo merece uma profunda reflexão.
O que me chamou atenção, alguns dias atrás foi um documentário feito pela BBC sobre ursos.
Três equipes foram destacadas, cada uma delas para um local diferente, com a missão de acompanhar o dia a dia de uma família de ursos.
As famílias, no caso, são as mamães urso e seus filhotes, pois os papais urso, a exemplo de muitos pais humanos, após a fecundação das fêmeas simplesmente somem.
Além da qualidade técnica das filmagens e da beleza extraordinária das locações é impossível não perceber o envolvimento emocional das equipes com as cenas que se desenrolam diante de seus olhos.
O carinho e a atenção das mães com seus filhotes chega a ser comovente, pois são animais enormes que chegam a pesar mais de trezentos quilos.
Durante dois anos elas se ocupam, vinte e quatro horas por dia, em proteger, alimentar e preparar os filhotes para a vida adulta.
Isto tudo, que seguramente não é pouco, sem o menor sinal de impaciência ou ansiedade.
Esta é a sua missão e parece que elas estão perfeitamente à vontade com a tarefa que lhes foi reservada pela natureza.
E as mães humanas?
Quantas você conhece que são capazes da mesma dedicação?
É evidente que nossa sociedade é imensamente mais complexa e há mil e uma explicações para o comportamento absurdo que vemos a todo o momento nas mamães humanas com seus filhos.
O fato de nossa cultura nos afastar cada vez mais da natureza devia ser assumido por todos nós e levado em conta nos momentos e que fazemos nossas opções de vida.
A ursa não tem escolha, a cada dois anos ela vai acasalar ter seus filhos e zelar para que eles se criem e a espécie seja perpetuada.
As humanas têm escolha, ter ou não ter filhos, e deveriam fazer suas opções com liberdade e de maneira consciente.
Afinal de contas se há uma coisa que sobra no mundo é gente; muita gente.
Porque continuam a produzir filhos se grandes partes delas não tem a menor vocação para isto?
Não é crime preferir o sucesso profissional ou uma vida mais livre e despreocupada.
Mas crianças, a exemplo dos bebês ursos, precisam de mães disponíveis e amorosas vinte e quatro horas por dia, nos primeiros anos de suas vidas.
Todo mundo sabe disso.
E todo mundo sabe também das conseqüências para as crianças de um início de vida com os pais ausentes.
A empresa em que trabalhei, durante muitos anos, era ao lado de uma creche. Todas as manhãs os carros se acumulavam na nossa porta com os pais despejando os filhos na creche. De noite era a mesma agonia, eles vinham buscá-los.
Porque ter filhos e deixá-los na mão de terceiros para cuidá-los?
Se a resposta que está na ponta da sua língua é que a mãe precisa trabalhar fora para poder manter o filho, não fale.
Você sabe que não é bem assim. Pelo menos para as que deixavam seus bebês lá, junto ao nosso escritório.
Voltaremos ao assunto mais adiante, mas pensem nele.
Enquanto isso lembrem dos bebês urso e morram de inveja.

06 novembro, 2006

12 – Reforma Agrária ou a Fazenda do Seu Quincas



Quando eu era garoto, muito, muito tempo atrás, costumava passar as férias de verão na fazenda do “seu Quincas”.
Era um período glorioso pela sensação de liberdade e pelas descobertas que fazíamos a cada momento (eu e meus amigos, os netos do seu Quincas) naqueles espaços, que, na época, me pareciam imensos.
Olhando em perspectiva a fazenda devia ser resultado da repartição de outra muito maior entre os herdeiros do falecido pai do seu Quincas e deve ter tido seu apogeu na era do café.
A casa grande não era lá tão grande e seu interior e mobiliário mostravam que a fase dourada tinha ficado no passado.
Contudo vivia-se bem e sem sobressaltos.
Os trabalhos da fazenda eram feitos por colonos (como eram chamados, na época, os trabalhadores rurais) que moravam em casas simples na área da propriedade e tinham sua horta, galinheiro, etc. para atender ou complementar sua alimentação e recebiam um salário que não deveria ser lá grande coisa.
Os mais operosos “meavam” com o proprietário lavouras de milho, cana, feijão ou aipim (é o que consigo me lembrar), o que lhes garantia uma renda extra.
Apenas para informação dos mais urbanos: Meação é um sistema em que o proprietário da terra a cede ao chamado meeiro para que ele a cultive. A colheita é repartida de acordo com o acordo feito (geralmente meio a meio).
Se não era o melhor dos mundos também não era o pior e, seguramente, poderia e deveria ser melhorado.
Com a industrialização crescente dos anos 60 e a concentração das populações em torno das áreas industrializadas as comparações entre as condições de remuneração do operário urbano e rural eram inevitáveis.
Isto foi um prato cheio para os políticos que criaram a imagem de um camponês espoliado que só existia em Cuba ou na União Soviética de 50 anos atrás.
O colono ou trabalhador rural passou a ser denominado camponês e todo mundo (políticos, religiosos, etc.) decidiu proteger os “pobres coitados”.
Resolveram estender ao campo os direitos trabalhistas dos operários urbanos, e dar o mesmo remédio para doenças diferentes costuma não dar certo, e não deu.
O objetivo dos fazendeiros passou a ser ter o mínimo possível de empregados e, de preferência, que não morassem na fazenda para não terem mais adiante problemas trabalhistas.
Descobriu-se então que o negócio era soltar o gado no campo e depois vender.
E o pessoal que sobrou? Foi para a periferia das cidades em busca de trabalho e lá ficou vivendo de sub-emprego e biscates e morando em condições miseráveis.
Os políticos ganharam seus votos, os fazendeiros passaram a ser empresários rurais.
Quando era necessária mais mão de obra na fazenda era só mandar um caminhão passar na favela mais próxima e trazer o pessoal. Ao fim do dia levar de volta e ponto final.
Suas excelências tinham inventado os “bóias frias”.
Precisavam agora proteger os bóias frias e a solução era a reforma agrária.
Os fazendeiros, que tinham aprendido a lição, trataram de racionalizar ainda mais seu trabalho com mais tecnologia, mais máquinas, etc., etc.
Por sua vez, com a demanda cada vez maior de alimentos e o inchaço das cidades a terra próxima aos centros consumidores se tornou cada vez mais cara.
Como e onde fazer a reforma agrária?
Desapropriando, ou melhor ainda invadindo as fazendas improdutivas foi a resposta dos “gênios”.
Só que elas eram improdutivas porque estavam exauridas pelo manejo predador.
Os proprietários que foram desapropriados estão rindo até hoje, pois foram pagos a peso de ouro para se livrar de um problemão (um pedaço foi para os “nobres”, é claro, mas deixa pra lá).
Os colonos, que com o tempo tinham se tornado bóias frias ganharam um novo apelido; agora eram os “sem terra”.
Os políticos novamente correram para proteger os coitados (como são bons os políticos).
Fizeram grandiosos planos de assentamento (apelido das favelas rurais) lá no meio do fim do mundo e disseram para os infelizes que agora eles eram donos da própria terra e podiam se dedicar a uma atividade que os levaria à riqueza e a prosperidade, “agricultura familiar”.
Vocês se lembram da fazenda do seu Quincas? Os filhos e netos dele se mudaram para a cidade e, quando o velho morreu, um meeiro muito trabalhador e sagaz conseguir comprar dos herdeiros a terra onde tinha nascido e que conhecia como ninguém.
A fazenda prosperou e com o passar do tempo a cidade vizinha cresceu tanto que encostou nela e o antigo colono, agora empresário, transformou a propriedade em loteamento urbano.
Você acredita num final feliz como este (que é real) para algum dos “sem terra” assentados pelo governo no meio da Amazônia?
Se acreditar não deixe de mandar uma cartinha para Papai Noel pedindo seus presentes desse ano.
E espere sentado que até 2012 os presentes chegam.

03 novembro, 2006

11 - Demografia



Você sabe o que é um demógrafo?
De acordo com a enciclopédia é um cidadão que estuda demografia, que, antes que alguém pergunte, é a “ciência que estuda a dinâmica populacional humana”.
Ainda, de acordo com a mesma “enciclopédia”, ela engloba o estudo das dimensões, estatísticas, estrutura e distribuição das diversas populações humanas e incluem variáveis como natalidade, mortalidade, migrações e envelhecimento.
Como você vê o demógrafo deve ser um sujeito muito importante e respeitado num mundo em que a população explode acima de qualquer limite razoável.
Somente seus conselhos e sua orientação podem nos salvar duma catástrofe.
Aí é, que começa o problema; VOCÊ CONHECE ALGUM DEMÓGRAFO?
Alguém já viu ou conversou com um?
Provavelmente a resposta é não.
Onde estão as pessoas que escolheram estudar problemas tão importantes e simplesmente não se manifestam sobre eles: Será que continuam apenas estudando?
Imagine que você está na escola de bombeiros (daqueles que apagam incêndios) e um dia, ao voltar para casa, vê que ela está pegando fogo. Qual será sua atitude? Sentará e ficará estudando o incêndio (afinal você está na “escola” de bombeiros) ou fará todo possível para apagar o fogo?
A resposta é óbvia, mas é no óbvio que as coisas empacam, e ao tentar descobrir porque elas empacaram, chegam-se às explicações mais absurdas.
Parece impossível que na situação acima alguém ficasse apenas sentado olhando o fogo, mas acredite, acontece. O quase bombeiro estava até estudando e não poderia perder tempo tentando apagá-lo ou, pelo menos, berrando como um louco para que alguém fizesse isso.
Para quem está curioso e quer saber onde os demógrafos entram nessa história a resposta é simples:
1 – Entre 1850 e 1925 a população do mundo cresceu de um bilhão para dois bilhões de pessoas (num período de 75 anos)
2 – Entre 1925 e 1962 passou de dois a três bilhões de pessoas (num período de 37 anos)
3 – Entre 1962 e 2006 passou de três a seis bilhões de pessoas (num período de 34 anos)
Onde estão os malditos demógrafos?
Seguramente não estão gritando e pedindo ajuda para que esse problemão seja resolvido ou que, pelo menos, se olhe para ele com atenção.
Se estivessem, seguramente você já teria visto um deles e não ficaria tão surpreso em saber que essa profissão existe.
Possivelmente, eles estão todos sentadinhos, um ao lado do outro, estudando as estatísticas, as migrações, a natalidade, etc., etc., etc.
Lá por volta de 2012 eles devem ter alguma tese para apresentar sobre o assunto.
Só não sei para quem, ou para quê.