23 outubro, 2006

7 - Desenvolvimento Tecnológico e emprego


Você sabia que cem anos atrás não existiam televisão, computador, bolsas Prada, tênis Nike, roupas Armani, geladeira elétrica, microondas e muitas outras coisas que hoje achamos indispensáveis ou pelo menos sonhos de consumo?
Pois é, e o surpreendente é que as pessoas da época viviam perfeitamente bem sem isso tudo e boa parte delas felizes e satisfeitas.
É claro que havia também uma parcela da população que tinha dificuldades, passava fome, morava mal e todo arsenal de mazelas que está presente no discurso de qualquer político atual como problemas ATUAIS que só ele será capaz de resolver, se eleito.
Por outro lado, nos últimos cem anos o mundo apresentou um espetacular desenvolvimento tecnológico sem paralelo na história da humanidade.
O crescimento da economia também foi notável e continua batendo recordes a cada dia que passa.
Deveríamos estar vivendo no melhor dos mundos se esses dois parâmetros (desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico) resolvessem todos os problemas, mas seguramente, não é o que acontece.
Aonde então a coisa capotou?
Simplificando ao máximo, o crescimento econômico e tecnológico tem inúmeras virtudes, mas um grande e sedutor pecado:
É ABSOLUTAMENTE CONCENTRADOR DE RIQUEZA.
O pecado é sedutor porque dinheiro é poder e gera mais poder.
Numa ponta da linha os donos dos meios de produção, do dinheiro, do poder político e religioso; na outra ponta o resto da tribo.
Não há o menor problema se o Bill Gates vive numa casa de milhões de dólares (não lhe faltam méritos para isso) o difícil é convencer a tribo que está ao relento que tem que ser assim.
Quando aconteceu a chamada revolução industrial as nações mais poderosas tinham grandes impérios coloniais, e com isso monopólios comerciais.
Assim a coisa era simples, compravam matéria prima nas colônias transformavam e vendiam novamente para as colônias.
A equação era simples: dinheiro e poder para a metrópole (casa grande) as sobras para as colônias (senzala).
Mas o mundo foi mudando, as populações crescendo exponencialmente (quanto mais gente mais mão de obra e, principalmente, mais consumidores) e mais tecnologia e mais eficiência nos meios de produção.
Mas, como dizia minha avó, “Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe”.
Os impérios coloniais desmoronaram e progressivamente a senzala foi invadindo a casa grande.
Indianos, africanos, árabes, enfim cidadãos de todas as antigas colônias emigraram em massa, em busca de melhores condições de vida para as antigas metrópoles.
Num primeiro momento tudo parecia muito bem, pois os recém chegados ocupavam os postos de trabalho que ninguém queria.
Mas chegou mais gente, e mais gente e o processo não para.
O desenvolvimento tecnológico também não para, ao contrário, ele se acelera num ritmo vertiginoso.
A conseqüência é que cada vez é necessário menos gente para produzir mais coisas.
O mundo industrial vai se transformando num mundo de prestação de serviços.
O problema é que a mão de obra que sobra do velho mundo (trabalhadores que foram substituídos por máquinas) precisam ser reciclados para entrar no novo mundo (serviços de alta tecnologia). E isto leva tempo.
E tempo é o que não temos. Pois novas tecnologias são criadas a cada momento tornando obsoleto o que ontem era moderníssimo.
E a população não para de crescer.
E a tecnologia vai cada vez mais rápida.
Para completar o quadro mais duas coisinhas:
a) A energia necessária para fazer tudo isso funcionar é cada vez mais escassa e mais cara;
b) A turma da senzala descobriu que tem o mesmo direito à cidadania que todos os outros e que a divisão do bolo tem que ser mais eqüitativa (ou pelo menos é isso que dizem para ela o tempo todo)
Voltando ao começo: (cem anos atrás) você acha que precisamos de toda a parafernália que temos hoje para nos considerarmos felizes?
Você acredita que ainda viveremos num mundo menos desigual e mais humano?
Se acredita sugiro que ligue para o Bill Gates e diga para ele que você vai passar uns dias lá na casa dele (deve ter algum quarto sobrando).
Se não acredita leia com atenção a resposta do sertanista Orlando Vilas Boas quando lhe perguntaram se havia fome entre os índios:

UMA COISA É CERTA: SE UM ÍNDIO ESTIVER COM FOME É PORQUE TODA TRIBO ESTÁ COM FOME.

Em tempo: Napoleão Bonaparte, acredite, não tinha telefone celular.