02 outubro, 2006

2 – Fome – Famintos / Obesos / África




Não faz muito tempo um político de um país da América Latina conseguiu se eleger presidente depois de vinte anos de tentativas.
O eixo da sua campanha era a promessa de acabar com a fome no país que tinha, segundo ele, trinta milhões de famintos.
Não apareceu uma santa alma para questionar este número e um clima de grande entusiasmo cívico fez com que pessoas famosas, outras nem tanto, fizessem doações que eram noticiadas com grande destaque na mídia.
A questão azedou quando um órgão do governo fez uma pesquisa, aparentemente muito bem fundamentada, e divulgou os resultados que surpreenderam a todos:

1° Não havia mais que dois ou três milhões de pessoas que pudessem se enquadrar na categoria “famintos”.

2° A surpresa da pesquisa foi o aumento acentuado e preocupante do número de pessoas acima do peso adequado ou obesos.

Não sei se o funcionário que determinou a pesquisa e a divulgou era apenas um bajulador querendo mostrar que em um ano e pouco de governo do ilustre político tinham sumido vinte e tantos milhões de famintos, ou era, como acredito que fosse, um profissional honesto que fez seu trabalho com afinco e divulgou o resultado antes que pudesse ser manipulado politicamente.
O assunto repercutiu pouco tempo e morreu.
O que ficou claro é que as estatísticas são manipuladas o tempo todo pelos políticos e o público em geral não presta a menor atenção nelas.
Não há dúvida que problemas como fome e pobreza são terríveis mas como caracterizar uma coisa ou outra?
Prefiro abordar o problema por outro ângulo.
Se considerarmos em termos absolutos não há a menor dúvida que a produção de alimentos hoje é mais que suficiente para alimentar cada habitante do planeta.
Se não é, pode ser em instantes, pois há tecnologia mais que suficiente para isso.
Convém não esquecer que existem danos ambientais, etc., etc como foi lembrado no capítulo anterior.
Porque, então, continuam a existir populações morrendo de fome ou em estado de pobreza absoluta como na África, por exemplo.
A resposta é que comida deve vir de perto de casa ou o custo do transporte passa a ser maior, ou muito maior, que o custo de produção.
Simples de entender e óbvio (a W.W.Foundation, ou coisa que o valha conseguiu enxergar isto e divulgou em toda a mídia, mas ninguém deu importância).
Imaginemos a seguinte situação:
O país A tem características difíceis para a agricultura e a população é dividida em vários grupos que lutam continuamente entre si por razões que não vem ao caso e é difícil prever um fim para toda esta matança e destruição.
Qual é a alma generosa que vai pagar o preço de mandar alimentos para uma população inteira e milhares de quilômetros dos locais onde os alimentos estão sobrando para que ela permaneça se matando ou mutilando?
E outra pergunta – Porque eles continuam lutando ao invés de produzir alimentos?
E mais uma e final pergunta – De onde vem as armas e munições usadas nessas guerras?
Para esta última pergunta a resposta é fácil – Exatamente dos mesmos países que promovem campanhas para mandar mantimentos para os brigões.
Alguém acredita que esta situação vai mudar?

Até 2012 a gente vê.

Em tempo: O presidente que citei acima, ao ser confrontado com o resultados da pesquisa feita por seu próprio governo saiu-se com a seguinte pérola:

- “O problema é que há muita gente que tem fome mas não sabe”