14 fevereiro, 2007

27 – O Papa e o meio ambiente



As alterações de clima, cada dia mais dramáticas, que vem provocando destruição e morte em todas as regiões do nosso planeta, finalmente parecem ter despertado atenção dos insignes dignitários que, ao menos em teoria deveriam, por força de seus mandatos, se ocupar do bem estar e do futuro daqueles que os escolheram para o governo de seus países.
No fórum econômico de Davos se tratou, ainda que de modo superficial, do assunto.
Aparentemente os gênios que nos governam começaram a perceber que, se continuarmos no caminho que escolheram para nós, dentro de muito pouco tempo estaremos num beco sem saída.
Outros tantos gênios (quinhentos “cientistas”, segundo li em algum lugar) estão reunidos para discutir o aquecimento global que parece ser o tema do momento.
As primeiras notícias do encontro dão conta, segundo eles, que em 2080 vai faltar água potável em quase todo o mundo.
Não sei que tipo de raciocínio ou metodologia eles usam para chegar a essa conclusão, mas uma coisa é clara, qualquer que seja está errada.
Está errada porque nossa lógica, não é levada em consideração pela natureza.
Já agredimos o planeta muito além de qualquer limite razoável e empurrar para uma data distante o momento do colapso total é, no mínimo, irresponsável e criminoso.
Quando sabemos que agora, na Austrália, devido à seca que já dura cinco anos e aos incêndios florestais já se está pensando em reciclar esgotos para ter água para consumo humano é fácil perceber que não nos resta outra alternativa senão decidir que providências tomar e agir rápido.
Ou será que só a Austrália será a “premiada” por esta crise?
Supondo que a data escolhida, 2080, seja correta, não é lícito supor que muito antes disso a situação já seria calamitosa em vários lugares do mundo?
Medidas drásticas têm que ser tomadas já para que haja alguma, ainda que remota, possibilidade de diminuir a velocidade com que nos dirigimos ao caos.
Não se trata de gastar um pouco menos de petróleo ou encontrar uma ou outra fonte de energia não poluente.
Não se trata de derrubar um pouco mais ou menos de florestas.
Não se trata de consumir um pouco mais ou menos de água.
Trata-se de saber que tipo de vida queremos viver.
Se o caminho que estamos trilhando nos levará certamente ao colapso em muito pouco tempo, que outro caminho seguir?
Mas, para que se possa escolher uma rota é essencial saber onde se quer chegar.
Os governantes, políticos, formadores de opinião e etc. falam o tempo todo em crescimento econômico, desenvolvimento sustentável, combustíveis não poluentes e outros chavões do gênero sem se deterem um momento sequer para ouvir o que estão dizendo.
Crescimento econômico para que e para quem?
A nação mais rica do mundo está longe de ser um lugar em que as pessoas vivam felizes e saudáveis.
Esse é o modelo que se quer seguir e se vem seguindo em quase todo o mundo e não há dúvida que não deu e não vai dar certo.
Seria muita pretensão tentar indicar esta ou aquela solução, mas é preciso ser cego para não perceber que o materialismo extremado que se expande por todo o mundo não está criando pessoas felizes. Obesas, ricas, violentas e neuróticas com certeza. Felizes não.
Seguramente dinheiro não traz felicidade. No máximo dá à sua infelicidade um tanto de conforto e é só.
Escolha um dia qualquer e veja os seriados e programas jornalísticos de qualquer tv a cabo (a maior parte do material é americana).
Se não conseguir contar pelo menos vinte mortes violentas é porque você não estava prestando atenção.
Além disso, as pessoas retratadas são absurdamente competitivas, inescrupulosas, mentalmente desequilibradas e sempre violentas.
Alguém há de pensar, isto é apenas ficção. Mas de onde sai esta ficção?
Quem tem prazer em ver esse lixo se não identifica nele pelo menos uma parte da realidade?
Na verdade, se nosso planeta está doente é porque nós estamos doentes.
Fomos nós, em nossa falta de juízo que levamos as coisas ao ponto em que estão.
E só nós poderemos tentar mudar este quadro.
E é aí que entra o nosso glorioso pontífice.
Curiosamente, ante o alarido que a imprensa fez sobre o assunto (a reunião dos quinhentos cientistas) vários presidentes e chefes de estado se manifestaram, mas ao que eu saiba, nenhum líder religioso disse nada.
Dei-me conta, então, que nunca tinha lido nenhuma declaração de nenhum Papa a respeito de meio ambiente.
Fiz uma busca em sites da web que me pareceram promissores (Vaticano, Santa Sé, CNBB, etc., etc.) e nada. Nada mesmo.
Sei que Sua Santidade tem inúmeros assuntos importantíssimos a lhe tomar o tempo.
Na pesquisa que fiz descobri que ele está avaliando os milagres necessários para canonizar o beato tal ou o Papa qual e também está preocupado com a violência no futebol italiano.
Ouso sugerir ao Senhor Bento que aproveite a ligação direta que tem com Deus (aprendi nas aulas de catecismo) e peça a ele para dar uma força.
Afinal de contas, segundo cálculos conservadores, há mais de um bilhão de católicos no mundo e, se o senhor disser para esse povo todo mudar o comportamento que tem tido até o momento, é possível que nos reste alguma chance.
Converse com Deus, peça perdão a ele por não ter olhado antes para isso, peça orientação e ajuda.
Se for preciso, se ajoelhe, chore, faça promessas porque o caso é grave.
Se Deus não resolver fazer um milagre daqueles bem grandes, meu caro Bento, nós estamos muito mal arranjados.
Pense bem, pois depois de todo o esforço que você fez para ser Papa perder esse emprego duma hora para outra vai ser triste.
Não acredite quando os cientistas (os tais quinhentos) dizem que a gente chega a 2080.
É mentira deles.
Dois mil e doze está chegando meu caro Bento.
É bom andar rápido.