06 fevereiro, 2007

26 – Dois Bispos na gaiola



Semana passada, não sei se por falta de assunto ou por um acesso incontido de zelo com as finanças do país, a imprensa noticiou com grande destaque a prisão, nos Estados Unidos, de um casal de “religiosos” cujo crime foi sair do Brasil levando a imensa quantia de cinqüenta e poucos mil dólares.
Como o dinheiro não havia sido declarado à Receita Federal os dedicados agentes da lei concluíram que se tratava de um terrível crime contra a ordem financeira mundial.
Quem sabe era dinheiro do narcotráfico ou para financiar o terrorismo?
Por alguma razão misteriosa, ao invés de deterem o casal aqui mesmo, deixaram que viajasse e pediram aos nossos irmãos do norte que efetuassem a prisão.
Naturalmente avisaram a mídia para que todos nós pudéssemos tomar conhecimento da eficiência das nossas forças policiais.
Tão logo pisou o solo americano, a perigosa dupla de meliantes foi detida pela polícia americana depois de ser cuidadosamente inspecionada pelo esquadrão antiterror local, pois tinha havido uma denúncia que o bispo levava uma bomba dentro do saxofone.
Tudo isso foi devidamente acompanhado, fotografado e divulgado pela imprensa com a imparcialidade que todos nós sabemos ser o apanágio dos jornalistas.
A história da bomba é, evidentemente, uma brincadeira, pois é impossível alguém levar a sério esta história toda. O casal em questão é dono de uma das muitas denominações religiosas com as quais estamos acostumados a conviver e não é muito diferente, para não dizer nada diferente, de todas as outras.
Faz as mesmas promessas, arrecada dinheiro da mesma forma e não sei de ninguém, entre seus seguidores, que tenha reclamado disto.
A casa em que os bispos moram em Miami e um haras pertencente aos ditos seriam as provas evidentes da desonestidade deles no uso do dinheiro das doações.
Como não tenho a menor simpatia por qualquer religião me sinto à vontade para lembrar que o modo de gastar o dinheiro que elas arrecadam nunca foi lá muito ortodoxo.
Os chefes de todas elas gostam do luxo e do conforto e, em comparação com os palácios do Vaticano, a casa dos pobres Bispos é uma choupana.
A origem do dinheiro, porém é sempre a mesma, a contribuição dos fiéis. (como sou uma pessoa de boa fé não acredito que haja outras fontes).
O destaque que o assunto teve me fez lembrar que, pouco tempo atrás, uma vultosa quantia, também não declarada, foi apreendida num táxi aéreo e prontamente liberada pelas nossas autoridades.
É verdade que acompanhando a bolada estava um dos numerosos parlamentares pertencentes à bancada da dita religião no congresso (o bispo era outro) nacional.
Para onde ia aquele dinheiro todo (era muito) nunca foi esclarecido e nem ninguém, muito menos a mídia, se importou em descobrir.
A impressão que me fica é que o pecado do casal de bispos foi levar consigo muito pouco dinheiro e no lugar errado.
Para que não tenham problemas no futuro sigam esta receita infalível:

a) Se a quantidade de dinheiro for muito grande fretem um avião (se a igreja tiver o seu próprio é melhor) e coloquem dentro dele o dinheiro e um ou mais parlamentares, de preferência do partido do governo. É prudente levar também alguns seguranças de confiança para evitar surpresas desagradáveis (políticos e dinheiro no mesmo lugar costumam sumir juntos).
b) Se a quantia for pequena (até duzentos mil dólares) pode ser levada na cueca, meu caro Bispo, pois mesmo que alguém descubra não haverá qualquer problema. Afinal, para este método, já há jurisprudência formada.

Em tempo:

O saxofone também pode ser uma opção.