08 janeiro, 2007

23 – Saddam – Herói ou Vilão



Dois mil e seis finalmente se foi e não deixou boas lembranças.
Ao apagar das luzes dois fatos chamaram minha atenção e gostaria de especular um pouco sobre eles.
O enforcamento do ex-ditador do Iraque e os comentários feitos a respeito, por chefes de estado e outras sumidades me deixaram perplexo, se é que alguém tem o direito de ficar perturbado diante de alguma coisa que acontece neste mundo louco.
Apenas para refrescar a memória:

1) Bush Boy, Kid Blair e outros patetas decidiram que o Califa Saddam tinha estocado armas de destruição em massa capazes de destruir o mundo.
2) Para salvar a humanidade mandaram suas tropas resolverem o problema e destruírem esse enorme arsenal que nos ameaçava a todos.
3) Três anos e muitos milhares de mortes depois descobriram que não havia arsenal nenhum. Que tinham cometido um erro.
4) Nesta jornada heróica conseguiram prender o perigoso Califa escondido num buraco e o apresentaram à mídia mundial como um troféu de guerra.
5) Para demonstrar o seu respeito às leis ou lá o que seja encenaram um julgamento para o Califa e o acusaram e o condenaram por matar 140 inocentes alguns anos atrás.
Estamos na mesma página?
Então vamos adiante.
Na cruzada para salvar o mundo de armas que não existiam e os iraquianos da ditadura do Califa, que aparentemente não os incomodava muito, Bush Boy, Kid Blair e seus sequazes mataram milhares de iraquianos totalmente inocentes.
Foram também responsáveis pela morte de três mil americanos, trezentos ingleses e mais alguns de nacionalidades diversas.
Na semana passada penduraram o Califa pelo pescoço.
Perdoem-me os mais sensíveis, mas não perdi o sono por causa disso.
O que me deixa um tanto ansioso é aguardar o julgamento dos outros criminosos.
Será que Bush Boy e Kid Blair vão enfrentar a forca com a serenidade do Califa?
O outro evento foi a onda de ataques de criminosos contra civis e policiais no estado do Rio de Janeiro.
A exemplo do acontecido em São Paulo alguns meses atrás, bandos fortemente armados atacaram com tiros, granadas e bombas incendiárias instalações da polícia, ônibus e pessoas.
As autoridades, como sempre, se mostraram surpresas e revoltadas com a selvageria e prometeram as providências de sempre; mais cadeias, etc. e etc.
A parte mais curiosa da história é que todos os que se manifestaram sobre os assuntos acima, o enforcamento do Califa e os ataques dos criminosos deixaram bem claro que são contra a pena de morte.
Autoridades, jornalistas, intelectuais, padres, pastores, políticos, advogados, enfim todos os que deram opiniões a respeito insistiram neste ponto, pena de morte é inaceitável em qualquer circunstância.
É evidente que não serei capaz de contraditar tantas excelências e nem quero fazer tamanha heresia, mas gostaria que respondessem a algumas perguntas.
A Primeira delas: O quê, ou quem é criminoso?
Para continuar apenas falando do Califa anos atrás ele iniciou uma guerra contra o Irã onde morreram milhares de pessoas (combatentes e civis).
A guerra acabou e ninguém se lembrou de chamar sua excelência de criminoso ou de julgá-lo em algum tribunal internacional.
Todas as nações do mundo continuaram a comprar o petróleo dele e tratá-lo com toda a deferência que se dá aos chefes de estado, ou seja, até então ele não era criminoso.
Tempos depois ele mandou matar cento e quarenta xiitas e por causa disso foi condenado à morte e executado com a aprovação de pessoas que se dizem contra a pena de morte.
Segunda pergunta:
O imperador do Japão, na segunda guerra mundial, mandou ou alguém mandou em seu nome, atacar Pearl Harbour sem declaração de guerra e em conseqüência morreram centenas de militares americanos. Alguém se lembrou de julgá-lo quando a guerra acabou?
E Stalin? E Tito? E Mao Tse Tung? E o Fidel com seu Paredon?
Terceira e última pergunta:
Nos ataques realizados no Rio e em São Paulo as autoridades competentes (competentes?) chegaram à conclusão que os mandantes estão nos presídios dos estados. São criminosos já condenados e, sustentados pelos cidadãos que pagam impostos, encontram meios de comandar de dentro das cadeias atos dessa natureza.
Que fazer?
O glorioso presidente do Brasil, indignado, classificou os meliantes como terroristas e pediu o endurecimento da legislação sem dizer exatamente o que isso representa ou o que ele realmente quer.
Uma coisa porém é certa, no partido ao qual ele pertence há inúmeros indivíduos que participaram de atos terroristas e hoje fazem parte do governo como parlamentares e ministros.
Vocês estão achando este texto confuso?
Eu também estou.
Ou o mundo ficou louco ou o louco sou eu. Se alguém puder responda, por favor.
Quem é mocinho? Quem é bandido?
Enfim, não há o que fazer se não virar a última página de 2006 e enterrar essas lembranças.